Primeira homilia
do Papa Francisco no Brasil: “conservar a esperança, deixar-se surpreender por
Deus e viver a alegria”
“É
de Maria que se aprende o verdadeiro discipulado” disse o Papa Francisco,
durante a celebração da Eucaristia, na Basílica de Nossa Senhora em Aparecida
(SP). Essa é sua primeira homilia e também primeira viagem apostólica
internacional durante a Jornada Mundial da Juventude. Papa Francisco
começou dizendo que “quanta alegria me dá de vir a casa da Mãe Aparecida”.
Lembrou que no dia seguinte a sua eleição, ele foi a Basílica de Santa Maria
Maggiore, em Roma, para confiar meu pontificado. Hoje, disse o Papa, ele quis
vir a Aparecida confiar a Jornada Mundial da Juventude e a vida do povo
latino-americano.
O
Papa lembrou que foi justamente em Aparecida, seis anos atrás, ele pode se dar
conta, pessoalmente, de algo que considerou belíssimo: os bispos trabalharam na
V Conferência do episcopado latino-americano e caribenho (CELAM) eram
acompanhados pelos peregrinos que vinham ao Santuário confiar suas vidas à
Nossa Senhora Aparecida. Por isso, o Documento que foi publicado depois daquele
encontro “nasceu do trabalho dos pastores e da fé dos romeiros sob a proteção
de Maria”.
E
fez uma breve mediatação chamando a atenção para posturas: “conservar a
esperança, deixar-se surpreender por Deus e viver a alegria”. Em primeiro
lugar, disse o Papa, “nunca percamos a esperança!”. Recordou que o mal esta
presente na vida de todos, mas o mal não é o mais forte. “Deus é a nossa
esperança”, afirmou o Papa. “É verdade que tantas pessoas, e também os jovens,
estão diante de tantos ídolos”, continuou. Esses ídolos seriam o dinheiro,
poder e o prazer. Lembrou também que muitas pessoas, frequentemente, vivem a
solidão e tem uma sensação de vazio, mas é preciso que ninguém desanime:
“sejamos luzeiros da esperança”, conclamou o Papa. Pediu que todos tenham uma
visão positiva da realidade e recordou que os jovens são um motor potente para
a sociedade e para a Igreja: “eles são a coração espiritual de um povo”,
acentuou.
A
segunda atitude, prosseguiu o Papa, é aquela de cada pessoa se deixar
surpreender por Deus. “Quem é homem e mulher de esperança, sabe que, mesmo em
meio a dificuldades, Deus está atento e nos surpreende”. Papa Francisco lembrou
que a própria história da imagem de Aparecida é uma bela ilustração das
surpresas de Deus. Ninguém poderia imaginar que de uma pesca no Rio Paraíba,
viria a mensagem de que o Brasil inteiro tem uma mãe. “Longe de Deus, o vinho
da alegria e da esperança, se esgota”. Perto dele, tudo isso se torna possível,
complementou o Papa.
A
terceira e última atitude escolhida pelo Papa é “viver na alegria”. Lembrou que
todos devem caminhar na esperança, deixando se surpreender por Deus e ser
alegres. “O cristão é alegre, nunca está triste. Deus nos acompanha. Temos uma
mãe que sempre intercede pela vida de seus filhos”, afirmou. E concluiu dizendo
que Jesus mostra a face de um Pai que ama. E, por isso, o cristão não pode ter
o rosto de quem está em constante estado de luto. Pediu que todos se deixassem
contagiar pela alegria de Cristo e recordou que o que Bento XVI disse no
Santuário de Aparecida, em 2007, quando afirmou que “o discípulo sabe que sem
Cristo não há luz, não ha esperança, não há futuro”. E concluiu: “viemos bater
na casa de Maria. Ela nos abriu, fez nos entrar e nos aponta seu filho e,
agora, ela nos diz: ‘Fazei o que ele disser’. O Papa responde a esse apelo
dizendo que todos devem fazer o que Cristo disser na esperança, cheios das
surpresas de Deus e na alegria.
Confira a homilia na íntegra:
Venerados
irmãos no episcopado e no sacerdócio,
Queridos irmãos e irmãs!
Queridos irmãos e irmãs!
Quanta alegria me dá
vir à casa da Mãe de cada brasileiro, o Santuário de Nossa Senhora Aparecida.
No dia seguinte à minha eleição como Bispo de Roma fui visitar a Basílica de
Santa Maria Maior, para confiar a Nossa Senhora o meu ministério de Sucessor de
Pedro. Hoje, eu quis vir aqui para suplicar à Maria, nossa Mãe, o bom êxito da
Jornada Mundial da Juventude e colocar aos seus pés a vida do povo
latino-americano.
Queria
dizer-lhes, primeiramente, uma coisa. Neste Santuário, seis anos atrás, quando
aqui se realizou a V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do
Caribe, pude dar-me conta pessoalmente de um fato belíssimo: ver como os Bispos
– que trabalharam sobre o tema do encontro com Cristo, discipulado e missão –
eram animados, acompanhados e, em certo sentido, inspirados pelos milhares de
peregrinos que vinham diariamente confiar a sua vida a Nossa Senhora: aquela
Conferência foi um grande momento de vida de Igreja. E, de fato, pode-se dizer
que o Documento de Aparecida nasceu justamente deste encontro entre os
trabalhos dos Pastores e a fé simples dos romeiros, sob a proteção maternal de
Maria. A Igreja, quando busca Cristo, bate sempre à casa da Mãe e pede:
“Mostrai-nos Jesus”. É de Maria que se aprende o verdadeiro discipulado. E, por
isso, a Igreja sai em missão sempre na esteira de Maria.
Assim,
de cara à Jornada Mundial da Juventude que me trouxe até o Brasil, também eu
venho hoje bater à portada casa de Maria, que amou e educou Jesus, para que
ajude a todos nós, os Pastores do Povo de Deus, aos pais e aos educadores, a
transmitir aos nossos jovens os valores que farão deles construtores de um País
e de um mundo mais justo,solidário e fraterno. Para tal, gostaria de chamar à
atenção para três simples posturas: Conservar a esperança; deixar-se
surpreender por Deus; viver na alegria.
1.
Conservar a esperança. A segunda leitura da Missa apresenta uma cena dramática:
uma mulher – figura de Maria e da Igreja – sendo perseguida por um Dragão – o
diabo - que quer lhe devorar o filho. A cena, porém, não é de morte, mas de
vida, porque Deus intervém e coloca o filho a salvo (cfr. Ap 12,13a.15-16a).
Quantas dificuldades na vida de cada um, no nosso povo, nas nossas comunidades,
mas, por maiores que possam parecer, Deus nunca deixa que sejamos submergidos.Frente
ao desânimo que poderia aparecer na vida, em quem trabalha na evangelização ou
em quem se esforça por vivera fé como pai e mãe de família, quero dizer com
força: Tenham sempre no coração esta certeza! Deus caminha a seu lado,nunca
lhes deixa desamparados! Nunca percamos a esperança! Nunca deixemos que ela se
apague nos nossos corações! O “dragão”, o mal, faz-se presente na nossa
história, mas ele não é o mais forte. Deus é o mais forte, e Deus é a nossa
esperança! É verdade que hoje, mais ou menos todas as pessoas, e também os
nossos jovens, experimentam o fascínio de tantos ídolos que se colocam no lugar
de Deus e parecem dar esperança: o dinheiro, o poder, o sucesso, o
prazer.Frequentemente, uma sensação de solidão e de vazio entra no coração de
muitos e conduz à busca de compensações, destes ídolos passageiros. Queridos
irmãos e irmãs, sejamos luzeiros de esperança! Tenhamos uma visão positiva
sobre a realidade.Encorajemos a generosidade que caracteriza os jovens,
acompanhando-lhes no processo de se tornarem protagonistas da construção de um
mundo melhor: eles são um motor potente para a Igreja e para a sociedade. Eles
não precisam só de coisas, precisam sobretudo que lhes sejam propostos aqueles
valores imateriais que são o coração espiritual de um povo,a memória de um
povo. Neste Santuário, que faz parte da memória do Brasil, podemos quase que
apalpá-los:espiritualidade, generosidade, solidariedade, perseverança,
fraternidade, alegria; trata-se de valores que encontram a sua raiz mais
profunda na fé cristã.
2. A segunda postura:
Deixar-se surpreender por Deus. Quem é homem e mulher de esperança – a grande
esperança que a fé nos dá – sabe que, mesmo em meio às dificuldades, Deus atua
e nos surpreende. A história deste Santuário serve de exemplo: três pescadores,
depois de um dia sem conseguir apanhar peixes, nas águas do Rio Parnaíba,
encontram algo inesperado: uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. Quem
poderia imaginar que o lugar de uma pesca infrutífera, tornar-se-ia o lugar
onde todos os brasileiros podem se sentir filhos de uma mesma Mãe? Deus sempre
surpreende, comoo vinho novo, no Evangelho que ouvimos. Deus sempre nos reserva
o melhor. Mas pede que nos deixemos surpreender pelo seu amor, que acolhamos as
suas surpresas. Confiemos em Deus! Longe d’Ele, o vinho da alegria, o vinho da
esperança, se esgota. Se nos aproximamos d’Ele, se permanecemos com Ele, aquilo
que parece água fria, aquilo que é dificuldade, aquilo que é pecado, se
transforma em vinho novo de amizade com Ele.
3. A terceira postura:
Viver na alegria. Queridos amigos, se caminhamos na esperança, deixando-nos
surpreender pelo vinho novo que Jesus nos oferece, há alegria no nosso coração
e não podemos deixar de ser testemunhas dessa alegria. O cristão é alegre,
nunca está triste. Deus nos acompanha. Temos uma Mãe que sempre intercede pela
vida dos seus filhos, por nós, como a rainha Ester na primeira leitura (cf. Est
5, 3). Jesus nos mostrou que a face de Deus é a de um Pai que nos ama. O pecado
e a morte foram derrotados. O cristão não pode ser pessimista! Não pode ter uma
cara de quem parece num constante estado de luto. Se estivermos verdadeiramente
enamorados de Cristo e sentirmos o quanto Ele nos ama, o nosso coração se
“incendiará” de tal alegria que contagiará quem estiver ao nosso lado. Como
dizia Bento XVI: «O discípulo sabe que sem Cristo não há luz, não há esperança,
não há amor, não há futuro” (Discurso inaugural da Conferência de Aparecida [13
de maio de 2007]: Insegnamenti III/1 [2007], 861).Queridos amigos, viemos bater
à porta da casa de Maria. Ela abriu-nos, fez-nos entrar e nos aponta o seu
Filho.Agora Ela nos pede: «Fazei o que Ele vos disser» (Jo 2,5). Sim, Mãe
nossa, nos comprometemos a fazer o que Jesus nos disser! E o faremos com
esperança, confiantes nas surpresas de Deus e cheios de alegria. Assim seja.
Site da CNBB: http://www.cnbb.org.br
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