O contexto do
evangelho de hoje é o de Jesus passeando dentro do Templo, por ocasião da festa
da Dedicação, quando um grupo de judeus se aproxima, ameaçando-o. Jesus lhes
recrimina a falta de fé:“Vós não credes porque não sois das minhas ovelhas” [Jo 10,26]. Ouvindo estas palavras os judeus queriam apedrejá-lo
[Jo 10,31].
E Jesus lhes diz
que, para ser ovelhas do seu rebanho precisam escutar a sua voz: “As minhas ovelhas escutam a
minha voz, eu as conheço e elas me seguem”. Aqui está o que é essencial na fé cristã: ouvir a
voz de Jesus e segui-lo. Não é cristão quem se recusa a escutar a Jesus e não
se dispõe a segui-lo.
A primeira coisa que
precisamos trabalhar em nós é a capacidade de escutar. Em meio a tantas vozes
que ressoam aos nossos ouvidos, precisamos desenvolver a capacidade de
distinguir a voz do Bom Pastor. Sua voz não se mistura com os gritos do
consumismo, da teologia da prosperidade, do desespero, das ameaças, dos
moralismos, do preconceito. Sua voz se confunde com sua própria vida. Ele dá a vida
por suas ovelhas. Quem não tem coragem de dar a vida, de se colocar a serviço
não pode ser ouvido nem seguido. É a voz do lobo que quer devorar: pensa
somente em si mesmo.
A palavra viva,
concreta e inconfundível de Jesus deve ocupar o centro de nossa vida, de nossas
famílias e de nossas comunidades. Por isso precisaríamos adotar o piedoso
costume de, todas as manhãs, rezar um trechinho da Sagrada Escritura. Assim
vamos nos tornando aquele discípulo que sabe ouvir e sabe dizer uma palavra de
conforto ao que sofre: “O Senhor Deus me
deu língua de discípulo para que eu saiba acudir o enfraquecido, ele faz surgir
uma palavra. Manhã após manhã ele me desperta o ouvido, para que eu escute como
os discípulos. O Senhor Deus abriu-me o ouvido. E eu não me revoltei, não me
virei para trás” [Is 50,4-5].
Juntamente com a
escuta da voz do Pastor vem a segunda parte determinante no discipulado:
seguimento. Prega-se por aí uma religião aburguesada. Como se o culto fosse um
lugar de tranquilizar as consciências, de busca de ‘conforto’ espiritual, de
uma espécie de ‘negócio’ com Deus. Ao ouvir a Palavra, precisamos nos
posicionar. A fé cristã tem tudo a ver com um modo de se viver. A oração
[escuta de Deus] nos coloca na dinâmica da realização da vontade do Pai. É o
seguimento de Jesus: crer no que ele creu, dar importância ao que ele deu,
defender a causa que ele defendeu, aproximar-se dos pequenos e indefesos como
ele se aproximou, confiar no Pai como ele confiou, enfrentar a cruz com a
esperança que ele enfrentou.
Escutar a voz do Bom
Pastor pode ser até fácil. Mas segui-lo demanda tomada de decisão, atitude
cotidiana de conversão. Pe. Antônio Pagola diz: “É fácil instalar-nos na
prática religiosa, sem deixar-nos questionar pelo chamado que Jesus nos faz no
evangelho deste domingo. Jesus está dentro da religião, mas não nos arrasta
para seguirmos seus passos. Sem dar-nos conta nos acostumamos a viver de
maneira rotineira e repetitiva. Falta-nos a criatividade, a renovação e a
alegria de quem vive esforçando-se por seguir a Jesus” [musicaliturgica.com].
Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN
MANHUMIRIM, MG

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